terça-feira, outubro 23, 2007

A História da Costa de Caparica e o seu Presente...


Do mesmo modo que a Lenda, a história da Costa da Caparica é-nos apresentada com várias versões.

De entre todas escolhemos a mais concisa e equilibrada.

Terra de grande tradição piscatória, a Costa de Caparica era antigamente um conjunto de simples pântanos cobertos de junco, cultivados de arvoredos e vinhas.

Mais adiante, no seu extenso areal, o centro da povoação era formado por barracas de colmo, ladeadas por singelas e modestas casas brancas.

A sua origem data de meados do século XVIII. Contudo, esta povoação terá conhecido outras designações como "Terra de pescado" e "Costa do mar', aliás, na carta topográfica militar de 1813, vem designada com o nome de "Cabanas da Costa".

Os seus primeiros habitantes, segundo consta, foram Pescadores de Ílhavo e Algarve, que atraídos pela safra da pesca vieram para a Costa pescar nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro, acabando por permanecer e formar as suas próprias famílias.

Muito embora o seu topónimo esteja relacionado, de certa maneira, com a lenda da Capa-Rica, a Costa de Caparica é, contudo, uma povoação de recente data, sendo a mais antiga inscrição, existente, a do cruzeiro do seu cemitério, datada de 1780.

Elevada a freguesia, em 12 de Fevereiro de 1949, por desanexação da freguesia da Trafaria, esta vila piscatória foi, em tempos de outrora, lugar de grandes tradições etnográficas.

Através de consulta a antigos documentos, podemos afirmar que o traje típico do pescador da Costa, era constituído por barrete preto, com borla da mesma cor, ceroulas de lã ou de algodão atadas junto aos tornozelos, ou calção branco a cobrir os joelhos. Camisa quadricolor, cinta preta onde guardava o dinheiro e tamancos de madeira. As mulheres usavam saias rodadas e compridas, blusa ou corpetes justos, avental, meias brancas e as chinelas eram pretas ou castanhas. Outro pormenor de realce no seu trajar, era a maneira de colocar o lenço, sendo um misto entre as mulheres do Norte e a tricana, ficando com um nó, um pouco abaixo do carrapito.

Sendo a pesca, o único meio de sobrevivência, os Pescadores da Costa de Caparica, tinham nas suas embarcações, os Saveiros e os Meia-Lua, algo de muito de si próprios.

António Correia, grande estudioso da história de Almada, em especial, da Costa de Caparica, diz-nos num dos seus trabalhos, dedicado aos barcos típicos da Caparica, que é sem dúvida notória a sua origem ser dos Romanos, os quais ao chegarem, com os seus barcos, à nossa costa marítima, após profundas transformações, deram origem aos barcos típicos do Norte, como os Moliceiros, as Bateiras Murtoseiras e o célebre barco de Ílhavo, os quais, depois com a vinda dos seus pescadores, para a Costa de Caparica, dariam lugar aos Saveiros e aos Meia-Lua.

Outro pormenor de grande interesse, nos barcos da Costa da Caparica, era, sem dúvida, o olho que ornamentava a sua proa, cuja a origem lendária parece ser atribuída a Ulisses, navegador lendário, simbolizando a divindade de uma deusa egípcia.

Esta típica embarcação de boca aberta e fundo chato, com a proa e popa muito arqueadas e levantadas, cujo desaparecimento foi uma perda irremediável para o nosso património histórico, é hoje somente presença em antigas gravuras, ou em vistosas miniaturas em museus, representando uma imagem que morreu no esquecimento histórico e social.


in "Jornal da Região"




Falando dos SAVEIROS ou MEIAS LUAS, nós chamamos-lhes BARCOS DO MAR tudo leva a pensar que a sua origem é PELASGA (pré-helenos), a origem tradicional dos Ilhavos e depois, quando estes fizeram a sua colonização também da Praia de Mira, Cova da Gala, Nazaré, CAPARICA, Sto André, Olhão, Monte Gordo e outros pequenos núcleos.

Os barcos do mar apesar de terem fundo chato possivelmenteno tempo dos pelasgos e até ao século XVI(descobertas) tiveram quilha porque até essa altura a Ria de Aveiro era um golfo em evolução que se degradou bastante desde o sec X.

No fim do sec XVI a Ria começou a fechar e foi possivelmente nessa altura que com os fundos baixos da ria e a necessidade de sair da praia os barcos começaram a ter fundos planos.

Pouco depois, entre os sec XVII e XIX os Ilhavos partiram e se instalaram na Caparica.

Na região de Vagos, Praia de Mira e Tocha (Ilhavo) ainda há alguns MEIAS LUAS, mas agora nem as redes nem os barcos são puxados por bois como antigamente, agora utilizam-se guinchos montados em tratores.



Presentemente a Costa de Caparica está cada dia mais pobre e abandonada...

Um testemunho dá-nos a sua opinião sobre a "cidade" da Costa.



Costa de Caparica

Venho por este meio demonstrar o meu descontentamento em relação à situação actual da minha terra, a Costa de Caparica...

Sendo comerciante, tenho verificado que de ano para ano a Costa tem-se degradado de uma forma muito acelerada, o que não consigo compreender. Como é que uma terra tão bonita com praias maravilhosas e bons restaurantes chegou ao ponto em que se encontra hoje?Desde lixo no chão das ruas, a mau ambiente social, a Costa está um estado lastimável, e sinto-me muito triste por isso. Nasci e cresci aqui, lembro-me de ser pequeno e ir a praia (quando esta realmente existia), de passear na rua dos pescadores, de entrar nas lojas que existiam há muito tempo onde todos nos conhecíamos por pertencemos a mesma terra, e agora o que há? Só há lojas do chinês, uma rua destruída e muito mal frequentada há noite. Praticamente todas as lojas têm fechado e receio que a minha vá pelo mesmo caminho...

Reconheço que com o projecto da Polis, a Costa vá melhorar (o que já está a acontecer), mas até o projecto se concretizar o que será de nós? A Costa não tem nada atractivo, as praias ainda não estão acabadas, não existem estacionamentos, as pessoas não conseguem alugar as casas...

É triste, por exemplo, ouvir de uma pessoa que nunca conheceu a Costa, quando cá chega dizer:" A Costa é isto?".O mal foi não se cuidar da nossa terra enquanto ainda era possível, agora não sei se é, pois está tão difamada que acho que já não tem remédio. Na minha opinião podiam por exemplo tornar a Costa mais atractiva organizando mais festivais de música, apoiando mais o rancho para que este desfile mais vezes, promovendo o dia de Nossa Senhora onde temos um desfile tão bonito que muitas pessoas gostaria de ver, enfeitar os bairros mais antigos nos dias dos Santos com fitas, música ao vivo, petiscos, actividades e muito mais...

O que vai acabar por acontecer, é um fenómeno muito grave: os jovens vão acabar por ir embora ficando apenas a população envelhecida, que conheceu a Costa da Caparica de outros tempos e que acredita que esta voltará a ser o que era. Ainda existe esperança para uns. Porque não haver esperança para todos nós....?

Não vamos deixar que questões políticas, financeiras ou outras quaisquer acabem com o tradicionalismo, a cultura e a beleza de uma terra como a Costa de Caparica. Vamos investir (mesmo com poucos recursos) na mediatização, na divulgação desta terra, vamos torná-la num óptimo ponto de turismo, vamos lutar juntos por uma terra mais limpa, mais cuidada e principalmente mais feliz, onde todos nos sintamos bem...

Que venham todos os apoios pois serão recebidos de braços abertos!!!Espero que todas as minhas palavras sejam compreendidas, e que haja alguém que agarre na Costa e transforme num paraíso (que era o que deveria ser).

Obrigado pela atenção.


Rudolfo Alemão

16/10/2007

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